terça-feira, 13 de outubro de 2009

Bob Dylan


Minha irmã me mandou e-mail, com a música de Bob Dylan, ‘Blowing in the wind’, dizendo que o mesmo despertara nela saudades de anos atrás, época em que descobrimos Dylan. Ela falou também da importância que o poeta/cantor passou a ter para nós, a partir de então. Recordações dos velhos tempos!
No ano passado, Bob Dylan esteve no Brasil, onde se apresentou no Rio de Janeiro e em São Paulo. Eu não quis ir vê-lo. Primeiramente porque os ingressos custavam os olhos da cara. E depois, porque eu tinha medo de que a magia ligada à pessoa de Dylan, em minha mente, se desfizesse, caso eu me visse frente a ele.
Eu já ouvi mais de vinte vezes, seguidamente, uma mesma música de Dylan. Na verdade, eu já ouvi umas duas ou três músicas dele, tocar seguidamente, vinte ou trinta vezes. Isso acontece, geralmente, quando vou fazer alguma trabalho 'automático' e 'mecânico', ouvindo o meu headfone. Aos primeiros acordes de músicas como Lay lady lay; Like a Rolling Stones ou Mr Tambourine Man, o meu dedo aperta automaticamente a tecla ‘repeat”, e eu fico ouvindo-a até cansar. Nesses momentos, passa pela minha mente pensamentos sobre o alcance da arte e reflexões sobre o talento de artistas como Bob Dylan.
Não faz muito tempo eu assisti ao filme “Eu não estou lá” (I’m not there), que conta, por assim dizer, a vida de Dylan, que é representado nele, por umas cinco ou seis pessoas. A idéia de usar cinco ou seis atores (inclusive uma mulher) para representar uma única pessoa, que no caso é o cantor, pode parecer maluca para alguém, mas faz todo o sentido se a pessoa representada é múltipla, como Bob Dylan.
Na verdade, todos nós somos mais de um, dado que todos sofremos transformações ao longo da vida. Mas, no caso de Dylan, é algo mais do que apropriado, uma vez que ele parece ser a própria metamorfose ambulante. Aliás, o nome do filme, "Eu não estou lá", faz referência a uma canção de Dylan que não teria sido lançada. Mas também se refere à fórmula do poeta francês, Arthur Rimbaud: "Eu é um outro", em cuja fonte Dylan também bebeu. Aliás, até mesmo o nome "Dylan", o cantor (cujo nome real é Robert Allen Zimmerman), tomou de empréstimo de outro trovador, o poeta Dylan Thomas. Também achei especialmente oportuna no filme, a exibição das fraquezas e contradições do artista, nuances presentes em todos os seres humanos e que também os define. Adorei o episódio em que ele se envolve num imbróglio com a esposa e outras pessoas, por proferir (de modo quase inconsciente) duas ou três frases carregadas de misoginia, coisa que exaspera a mulher, bem como os outros presentes. Acho também interessante o fato de a música de Bob Dylan açambarcar estilos tão variados e diferentes, como o folk e o rock, para citar só dois deles. E o mais interessante ainda, é percepção de que certas músicas talvez só sejam atraentes por terem vindo dele, por carregarem em si, um pouco da essência do artista. Quero dizer que não estou certa de que gostaria igualmente, por exemplo, da música ‘Like a Rolling Stone’, se ela fosse cantada em português. Penso que ela me pareceria por demais brega, como um brado de repreensão masculina contra uma mulher outrora exuberante e bem de vida; algo bem aos estilo dos sertanejos, que é um gênero ao qual faço restrições. Mas Bob Dylan é Bob Dylan!