domingo, 21 de agosto de 2011

O que é espiritualidade para mim
(blogagem coletiva proposta pelo blog: http://espiritual-idade.blogspot.com/)
Espiritualidade para mim é a certeza de que estamos ligados a algo maior e divino. Cheguei a esta conclusão observando a própria humanidade, pois vejo um quê de sagrado em cada ser humano com quem cruzo, o que me levou a deduzir que trazemos uma fagulha divina dentro de nós. Depois, estudando as religiões, vi que muitas delas apregoam a idéia de que o homem foi feito à imagem e semelhança de Deus, coisa que para mim faz muito sentido. Também encontro sinais do sagrado em toda parte, em cada um dos fenômenos naturais que nos cercam.  Mas, se fico maravilhada ante as estupendas obras da natureza, não o fico menos, ao constatar o incrível equilíbrio de todas as forças universais.
 Ultimamente eu tenho visto na TV o anúncio de um sem número de documentários, que tratam da possibilidade de a Terra vir a sofrer colisão com um corpo celeste grande, coisa que provocaria uma destruição imensa e terrível. Cheguei a comentar, com o meu marido, que acho este tipo de trabalho agourento e de mau gosto, rsrs. Sim, porque, embora não tenha assistido a nenhum, não pude deixar de ver, nos trailers, que logo após o impacto a Terra mergulharia numa escuridão gelada (provocada pela colossal atmosfera de poeira, cinza e fumaça, que encobriria o sol, acarretando uma dramática queda na temperatura terrestre). Porém, tal escuridão e gelo seriam quebrados, em muitos lugares, por incêndios imensos, que ocorreriam ao mesmo tempo que inimagináveis terremotos e tsunamis. Agora soube que o novo filme do cineasta dinamarquês Lars Von Trier aborda o mesmo assunto, embora com outro foco. Então, já estou começando a achar que alguns homens possam estar pressentindo um gigantesco desastre – Deus nos acuda! rsrs.  
 Por outro lado, não é de admirar que não ocorram tragédias assim com maior regularidade, se corpos pequenos caem na Terra o tempo todo? Digo com maior regularidade porque, segundo a ciência, o último desastre aconteceu há cerca de 65 milhões de anos e foi a causa da extinção dos dinossauros e de uma importante mudança/ajustamento do clima da Terra, entre outras. Eu não posso crer que o equilíbrio seja casual.
Embora eu nunca tenha necessitado de fatos e provas para justificar a minha fé, que é algo íntimo e puramente intuitivo, fico surpresa ao ver as argumentações que muitas pessoas usam para a sua descrença, pois em mim tais argumentos só produziriam dúvidas, e nunca a certeza da inexistência de Deus. Por outro lado, a própria ciência - que, diga-se de passagem, está longe de explicar e entender tudo, ao contrário do que parece acreditar os fanáticos dela -, já elencou tantas condições para a existência da vida na Terra, que crer que tudo é só coincidência chega a ser um paradoxo. Sim porque, segundo a ciência a Terra (resumindo muito):
1)   Tem o tamanho justo para ter a atmosfera formada de oxigênio e nitrogênio, gases mais abundantes em nossa atmosfera e importantíssimos para a existência da vida. O Oxigênio, aliás, representa só 20% da atmosfera se tivesse mais dele seríamos intoxicados.
2)   Está localizada à distancia justa do sol. Se fosse minimamente mais perto ou mais longe, a vida aqui seria impossível
3)   Os movimentos giratórios da Terra são perfeitos para a manutenção do equilibrio térmico de que necessitamos (todos os que vivemos no planeta), tanto no que concerne aos dias e noites  quanto em relação às estações.
4)   O satélite da Terra (a Lua) tem tamanho e distância perfeitamente ajustados à força gravitacional da Terra e é a força gravitacional da Lua (principalmente) que produz os movimentos dos oceanos (marés) que impedem a estagnação das águas. A evaporação das águas dos oceanos filtra o sal e distribui depois a água pura por toda a Terra, através da chuva.
5)   As águas dos oceanos são chacoalhadas pela gravitação lunar, mas não a ponto de inundarem os continentes.
6)   2/3 da superfície da Terra é coberta de água, que é uma substância cujas características (cor, cheiro, solvência, ponto de ebulição e congelamento) atendem perfeitamente às necessidades das vidas terrestres. Congelamento? Alguém pode perguntar? Sim, a água congela de cima para baixo, o que permite que os peixes sobrevivam em locais de invernos rigorosos. E a água é um solvente universal, o que permite que tenhamos muitas substâncias químicas, nutrientes, minerais, etc. presentes em nossos organismos sem que elas nos prejudiquem (para falar só de duas das propriedades da água, que constitue também 2/3 de nossos corpos).
7)   O ser humano é uma maravilha de design e funcionalidade e bibliotecas inteiras poderiam ser escritas apenas com a exploração desse assunto.  Porém, cada um dos seres humanos tem identificação única (o código do DNA que, além disso, é como um programa de computador que informa às células como elas devem se comportar, até mesmo com relação às  características potenciais, como o desenvolvimento de doenças, aptidões etc).
Enfim, é muita coincidência para ser tudo casual! Por outro lado, sei que a Terra sempre tem sido palco de ocorrências incompreensíveis, tanto no que se refere aos males que os homens têm infligido uns aos outros, quanto àqueles decorrentes de fenômenos naturais. Acho que a razão para a existência dessas coisas não nos é dada a conhecer, em nosso atual estágio de compreensão. Pela mesma razão, acho que um deus que compreendêssemos totalmente não seria digno de ser chamado de Deus.

sábado, 9 de julho de 2011

Meia Noite em Paris e a Vida Real


Fui ver recentemente o novo trabalho de Woody Allen, Meia Noite em Paris, e gostei muito. O filme é uma delícia, com a sua explícita alusão ao conto de fadas, em que sonhos se realizam à meia noite ou por volta dela. O personagem sonhador nele é Gil Pender, roteirista de Hollywood, que gostaria de viver em Paris e realizar ali uma obra relevante, começando com a conclusão do romance em que está trabalhando. Gil, sua noiva, Inez, e os pais dela se encontram de férias em Paris, e enquanto ele fantasia sobre como seria a vida ali nos anos 20, quando a cidade fervilhava de escritores e artistas, a noiva e os pais dela não querem outra coisa senão agir como turistas, visitando os points famosos e comprando móveis e objetos para o futuro lar da moça.
Então acontece de Gil ser transportado ao passado, através de um Peugeot antigo, que pára ao lado dele. Isto ocorre quando Gil se encontra sentado numas escadas na rua, onde arriara, a fim de descansar as pernas e tentar apressar um pouco a metabolização do álcool ingerido numa degustação de vinhos, em que estivera com a noiva. Os passeios solitários à noite, aliás, acontecerão muitas vezes, já que Gil se aborrece com a postura da noiva e dos sogros, que se comportam como burgueses arrogantes e tolos, sendo que a noiva ainda lhe proporciona um desprazer extra, ao se deixar envolver por um casal de amigos - que também se encontra de férias na cidade -, pois o homem, ex-professor de Inez, é um indivíduo pedante e chato, por quem, todavia, ela tivera uma paixão no passado (que ele, talvez, deseje reacender no presente).
No antigo Peugeot há sempre alguma das grandes personalidades das artes, que vivia em Paris nos anos 20, começando pelo escritor Ernest Hemingway. Estas pessoas levam Gil aos lugares que freqüentavam: bares, salões de festa e residências. Nestes locais, Gil encontra, estupefato, muitos dos artistas que posteriormente haveriam de ser consagrados como os gênios do século: Picasso, Cole Porter, T.S. Eliot, Luís Buñel, os Fitzgeralds, Gertrude Stein e outros. Claro que todos nós também somos transportados para aquele mundo mágico e cheio de vigor criativo. E ficamos imaginando quão fabulosamente interessante não teria sido uma experiência assim.
Terminado o filme, porém, não pude deixar de pensar nas vidas daqueles gênios, e foi inevitável a constatação de que muitos deles experimentaram grande quinhão de dor. Hemingway, por exemplo, começou a sofrer antes do estrelato, digamos assim, pois o pai dele se matou, quando o escritor tinha 30 anos e estava mais ou menos no início da carreira. A mãe dele, não obstante a relação que tinha com a arte, pois era professora de canto e ópera, tinha um espírito dominador e autoritário e era dada a atormentar o filho. Consta, em algumas das biografias do escritor, que a mãe chegou a lhe enviar o revólver com que o pai se matara, e ele nunca soube se ela desejava que o guardasse, como uma recordação do acontecimento trágico, ou o usasse para o mesmo fim. De qualquer modo, Hemingway viria também a cometer o suicídio, em 1961, vencido por doenças sérias e uma severa depressão. Antes disso, porém, a vida dele fora intensa e cheia de aventuras, como dá para entrever no filme. Também os Fitzgerald enfrentaram anos sombrios. O casamento deles foi instável e permeado de sofrimentos, que culminaram na esquizofrenia dela e no alcoolismo dele. Scott Fitzgerald morreu aos 44 anos, quando tentava refazer a vida longe de Zelda, que se encontrava internada num hospício (onde viria a morrer, oito anos depois, num incêndio que consumiu o lugar).
Cole Porter, provavelmente o mais charmoso dentre todos quantos foram mostrados no filme, ingressou no seu Purgatório terrestre aos 46 anos. Até então levara vida rica, venturosa e luxuosa, cercado dos mais conhecidos intelectuais da época. E então, em 1937, sofreu o acidente de cavalo que lhe quebrou as duas pernas, o obrigou a amputar uma delas, e o deixou com dores crônicas até o fim dos seus dias. Homossexual, Porter viveu vários romances com homens, apesar de ter sido casado durante 34 anos, com Linda Lee Thomas, mulher que sempre o apoiou. Quem assistiu ao filme que conta a vida dele (De Lovely, com Kevin Kline no papel principal), deve ter visto tudo isso.
T.S. Eliot tinha um distúrbio mental, como também a esposa dele. Picasso até que não sofreu, se não levarmos em conta os anos de pobreza extrema e carências variadas, do início de sua carreira. Em compensação, ainda hoje é acusado de ter infligido muitos e terríveis sofrimentos às suas mulheres.
Bem, vou parar por aqui, pois a vida também tem coisas boas e é um erro a gente se deter demais nas ruins. Todavia, não posso deixar de perguntar: não é uma pena que a vida real seja frequentemente tão complicada?

terça-feira, 15 de março de 2011

Nascimento


Quando fui convidada a escrever sobre o assunto ‘nascimento’, pensei em falar sobre a entrada dos seres humanos nesse mundo, a expectativa que este acontecimento gera na família e coisas tais. Mas isso me fez pensar justamente na importância que tem a boa expectativa, com relação à chegada dos bebês, que deveriam sempre ser desejados e bem cuidados. Sabemos que, por infinitas razões,a realidade não é bem esta. E, por outro lado, eu compreendo e respeito a decisão das pessoas que decidem não ter filhos. Os filhos, de fato, dão trabalho e geralmente impõem sacrifícios aos pais. Há pessoas que não deveriam mesmo ter filhos, seja em razão dos próprios interesses ou limitações, ou pelo bem da humanidade.
Com tudo isso, porém, eu não compreendo uma pessoa como a psicanalista Corinne Maier que, sendo mãe, se deu ao trabalho de escrever um livro onde lista 40 Razões Para Não se Ter Filhos (que, aliás, é o nome da obra). Para ser sincera, eu não cheguei a ler este livro (nem pretendo, pois o título é por demais autoexplicativo, rsrs). Mas as resenhas dele, lidas em muitas mídias, e as controvérsias que ele gerou na época do lançamento me fizeram saber que esta senhora acha que (com as próprias palavras dela):

01) As crianças são o inferno
02) Os filhos arruínam as mães
03) Uma mulher com filhos não pode ter uma carreira
04) Também não pode se divertir nem ter vida afetiva e sexual
05) Filhos são parasitas
E vai por aí até chegar à 40ª.

É um livro tão provocativo, e a autora parece tão afeita às controvérsias, que eu simplesmente não o mencionaria, chamando a atenção para esta obra caça-níqueis, não fosse o fato de terem vindo a público um bando de gente igualmente equivocada (ou de má fé) que, ecoando as argumentações do livro, tenta impor os próprios pontos de vista. Chamo essa gente de equivocada ou de má fé porque, como eu disse acima, ter ou não filhos é decisão de foro íntimo, que deve ser respeitada pelos outros.
Mas vir a público proclamar sandices como: “Com filhos você vai passar noites acordada e não será na balada e sim ouvindo choro” é algo que açoita o meu raciocínio e sensibilidade e, diante disso, a vontade que tenho é de dizer a essa pessoa: "Você tem razão, se a sua mãe tivesse pensando como você, eu agora estaria livre de ouvir/ler o que você está dizendo”, rsrs.


(Blogagem Proposta pelo Blog Espiritual Idade: http://espiritual-idade.blogspot.com/)

terça-feira, 8 de março de 2011

O Bom, o Mau e o Feio (The Good, the Bad and the Ugly), ou uma das muitas belezas que a vida me ofereceu.

Meu pai era fanático por faroestes e e séries de TV relacionadas a cowboys e fazendeiros. Acho que isso se devia à infância dele, vivida em fazendas. Ele também se identificava com os forasteiros, que deixam as suas raízes para irem em busca de progresso pessoal e aventura, em lugares ainda por desbravar. O espírito aventureiro e destemido, aliás, era peculiaridade de meu pai, que deixou a vida cômoda e conhecida, para participar, desde o início, da epópeia da construção da nova capital do Brasil.
Na minha infância e juventude, quando os filmes de faroeste eram exibidos na TV, nós filhos sabíamos que o canal não podia ser mudado. Nessas ocasiões, eu geralmente me retirava da sala e ia ler um livro, ou fazer outra coisa, pois embora nunca tivesse assistido sequer a um filme desses inteiro, não me agradava a violência que permeava as estórias; nem as pessoas brutas e empoeiradas que eram as personagens delas.
Mas, eis que um dia, passando diante da porta da sala, enquanto meu pai prestava o seu culto semanal aos cowboys do Velho Oeste, rsrs, ouvi uma música muito linda, que em seguida descobri ser a trilha sonora do filme que ele assistia. Era ‘Il Trillo’, de Ennio Morricone, que foi consagrada posteriormente como “The Good, The Bad and de Ugly”, nome norte-americano do filme ‘ Il Buono, il Brutto, il Cattivo’, do italiano Sérgio Leone, estrelado por Clint Eastwood.
Achei a música extraordinária e dali pra frente passaria a associar cada nota dela à ação do filme: as disputas entre Eastwood ‘Loirinho’ e os dois outros bandoleiros: Tuco e Angel Eyes. Loirinho seria o Bom, Angel Eyes, o Mau, e Tuco, o Feio. Na verdade, nenhum dos três era realmente bom e Eastwood/'Loirinho' era o mais bonito deles, rsrs. Mas isso não tinha importância; importante era a gente ir assistindo e intuindo, por causa da agitação que ia nos tomando, que estava diante de uma obra genial, que estaria conosco para sempre.
Quando eu fiquei mais madura e pude acompanhar com mais atenção à carreira de Clint Eastwood, me ocorreu que os acasos da vida já devem ser previamente determinados, para algumas pessoas. Só isso explica o fato de alguém como Clint Eastwood ter tomado parte de um projeto cinematográfico que à época, devia parecer uma bobagem, para um ator norte-americano. Refiro-me aos filmes ‘Spaghetti Western’, gênero no qual embarcou Sérgio Leone. Mas o tempo fez com que alguns daqueles filmes – este entre eles - viessem a ser considerados obras primas. Uma coisa é certa, a música/tema de Ennio Morricone é de fazer qualquer um arrepiar; beleza em estado puro!