domingo, 29 de julho de 2012

Porque amo Giuseppe Tommasi di Lampedusa



Porque amo Giuseppe Tommasi di Lampedusa

Comprei o livrinho O Leopardo (Il Gattopardo, no original), apenas porque mais ou menos havia iniciado a coleção dos volumes de um determinado ‘pacote’ de livros, que certa editora estava lançando mensalmente. Isto já faz uns 15 anos e até então desconhecia quem tinha sido Giuseppe T. di Lampedusa.
Uma lida no prefácio, escrito por Giorgio Bassani, o  cara que levou o livro a ser publicado, lá na Itália, me deixou curiosa, pois ele  se referia à obra como  a um achado raro.  Li o livrinho e me apaixonei por Lampedusa.  O enredo não tem nada demais: seria uma rememoração da vida do avô do autor, o príncipe Giulio Fabrizio di Salinas, que viveu intensamente o episódio da unificação do Estado italiano, fato ocorrido a partir da segunda década do século XIX.

Ocorre que a gente percebe o entrelaçamento existente entre o personagem do livro e o próprio autor, como se este tivesse desejado mostrar simultaneamente o avô e a si mesmo. Além disso, há a descrição da vida da nobreza  italiana da época (Fabrizio di  Salinas, como Giuseppe Tomasi – posteriormente - foram ambos príncipes de Lampedusa, uma ilha pertencente à Sicília). E a descrição da vida da família do príncipe é muito interessante.  
A estória depois foi filmada (em 1963), por Luchino Visconti, com os atores Burt Lancaster, Alain Delon e Claudia Cardinale, e o filme consagrou-se como uma obra prima. Mas, voltando ao livro, a estória nos encanta pela descrição da vida da alta aristocracia italiana, como mencionei. Mas também nos prende devido ao tema, pois relata a decadência da classe dominante, que estava sendo então destronada pela burguesia nascente. Percebe-se, ainda que muitas vezes sutilmente, o estado melancólico do príncipe, que julga a sua classe e família já vencidas e suplantadas pela classe ascendente.

Quando toma conhecimento de que o seu amado sobrinho Tancredi de Falconeri vai se aliar à nova classe, contra a aristocracia (contra a própria família, portanto), o príncipe fica perplexo.
Questionando as razões do “disparate” ao sobrinho, este, com agudeza de espírito, explica:

“é preciso que tudo mude, para que permaneça como sempre foi”.

O príncipe então passa a apoiar o sobrinho, inclusive quanto à coligação que este faz com a  classe ascendente, ao casar-se com a filha de um dos seus expoentes (o velhaco, porém perspicaz e novo rico, Don Calogero Sedàra). A ironia é que a filha do príncipe, a jovem Concetta, sempre amou o primo Tancredi, com quem acreditava que viria a casar-se.  Então temos um livro que nos oferece um tema histórico; reflexões sociais e políticas; interessantíssimas descrições sobre a vida aristocrática;  conflitos de valores e muito mais.
Todavia, o que me arrebatou, mais do que tudo, foi o amor do príncipe Salinas pelos cães. E o fato de ele atribuir aos sicilianos de então uma índole violenta, ignorante e, de certo modo, criminosa,  o que nos faz antever o espírito que geraria a máfia. Não obstante tudo isso, é perceptível o amor do príncipe pela Sicília.

quarta-feira, 18 de abril de 2012

Cinema Especial - O Clube da Luta!


Atenção, Spoiler, texto com revelações sobre o enredo do filme acima!

 
O Clube da Luta

Um dia desses revi um pedaço do filme “O Clube da Luta”, que estava sendo exibido na TV. Geralmente só me ponho em frente à TV , durante o dia (era o fim do dia, a bem da verdade), quando vou fazer algum trabalho manual, que não requeira muita atenção, como era o caso. O fato é que eu não posso ver cenas desse filme -  que vi pela primeira vez na época do lançamento, lá pelos idos do ano 2000 -,  sem me deter  para assisti-las, pois o considero uma obra genial.
O filme conta a estória de um personagem cujo nome não é dito (pelo menos eu não me lembro de alguém ter nomeado o cara, ou ele mesmo ter se apresentado com um nome). Que é um homem comum, inserido no contexto da sociedade contemporânea. Por alguma razão este homem (interpretado pelo ator Edward Norton)  viaja muito a serviço – ele trabalha numa companhia que vende automóveis - e está passando por um período em que sofre continuadamente de insônia.

Numa das viagens áreas, ele conhece um homem chamado Tyler Dunder (interpretado por Brad Pitt), com quem entabula uma conversa e estabelece uma estranha relação.  Tyler Dunder parece ser tudo que o primeiro homem não é: inteligente, questionador, transgressor e totalmente disposto a mudar a “perversa” ordem das coisas; um cara de ação.   De ação e de palavras, pois as frases que Tyler Dunder profere são bombásticas, do tipo que leva as pessoas a refletirem e  - estranhamente - a concordarem com elas. Ele diz, por exemplo:

“Somos uma geração sem peso na história. Sem propósito ou lugar. Nós não temos uma Guerra Mundial. Nós não temos uma Grande Depressão. Nossa Guerra é a espiritual. Nossa depressão são nossas vidas.   Fomos criados através daTV para acreditar que um dia seríamos milionários, estrelas do cinema ou astros do rock. Mas não somos."

Eu vejo aqui as pessoas mais fortes e inteligentes. Vejo todo esse potencial desperdiçado.
A propaganda põe a gente pra correr atrás de carros e roupas. Trabalhar em empregos que odiamos para comprar merdas inúteis”
.


“Você não é o seu emprego. Nem quanto ganha ou quanto dinheiro tem no banco. Nem o carro que dirige. Nem o que tem dentro da sua carteira. Nem a porra do uniforme que veste. Você é a merda ambulante do Mundo que faz tudo pra chamar a atenção”.

Mas essas coisas (e muitas outras!) ele diz ao vendedor de automóveis durante o filme inteiro, no início ele apenas intriga e instiga o homem,  a quem vai enredando em seu mundo. O vendedor insone não consegue que o médico lhe receite remédios para dormir, que em vez disso, o aconselha a aderir a reuniões de grupos de apoio, para que possa ver o que são problemas reais, para assim superar o seu problema de fantasia.

O vendedor então passa a frequentar as reuniões de um grupo de vítimas de câncer nos testículos e se torna, a partir de então, viciado em reuniões de grupos de apoio, que passa a frequentar obsessivamente. Numa dessas reuniões ele percebe a presença de  uma mulher, Marla Singer (interpretada por Helena Boham Carter) que também frequenta as tais reuniões, sem ser uma vítima dos problemas discutidos. A mulher é meio marginalizada e libertina, e o vendedor não demonstra simpatia por ela, tanto que consegue que ela concorde em  não frequentar os mesmos grupos que ele frequenta.

Nesse meio tempo o vendedor tem o apartamento explodido, em sua ausência, e é levado, por Tyler Dunder,  a fundar um clube de lutas, no subsolo de um prédio. O clube recebe muitas adesões e os homens que entram nele lutam para valer, como se estivessem participando de um desses campeonatos de luta livre, que a gente assiste na TV. Em seguida eles se tornam como que um grupo de subversivos, que toma para si a missão de dar um jeito no mundo, o que significa, executar muitas ações de caráter terrorista, como fazem as facções terroristas existentes no mundo.  
 Aí Marla Singer telefona ao vendedor  comunicando que tomou um punhado de pílulas e está sofrendo os efeitos da overdose, coisa que ele resolve ignorar. Todavia, Dunder fica sabendo do ocorrido e vai socorrer a mulher, com quem passa a ter um ativo relacionamento sexual. Dunder continua a ser a mente e o motor de tudo o que ocorre na nova vida do vendedor, que ganha um cunho totalmente diferente do que era antes. A nova vida é cheia de ações contra o sistema, todas violentas ou abusivas, como a inserção de imagens pornográficas em filmes infantis, ato perpetrado por Dunder, que se emprega como projecionista de cinema exclusivamente com este objetivo.
  
As ações vão se sucedendo, cada vez mais provocativas e/ou arrasadoras  e o vendedor começa a achar que Dunder talvez tenha ido longe demais. E é aí que ele descobre que ... Dunder na verdade é  ... ele próprio! Sim, lá atrás, no início do período de insônia, ele entrou em processo de esquizofrenia! E se Dunder é ele mesmo, toda a destruição perpetrada até ali, inclusive a explosão do proprio apartamento, foi ação executada por ele mesmo! Tudo isso é dito abertamente, em "conversas" que ele tem com Dunder, e através das cenas mostradas em flasbacks, mas muita gente chega ao fim do filme sem perceber que o vendedor e Dunder são a mesma pessoa!
  
E tem mais, nas cenas finais é vista a explosão das torres gêmeas do World Trade Center (sim, por favor, alguém aí assista é me diga se é ou não, pois já me disseram aqui que são apenas prédios parecidos!). As torres ruem como parte dos planos de destruição arquitetados pelo “grupo” de Dunder, que a gente começa a ver como outras personalidades criadas pela doença que acomete o vendedor.  O detalhe é que o filme foi lançado em 1999 e o atentado ao W TC ocorreu em 2001, como todos aí devem se lembrar!

domingo, 21 de agosto de 2011

O que é espiritualidade para mim
(blogagem coletiva proposta pelo blog: http://espiritual-idade.blogspot.com/)
Espiritualidade para mim é a certeza de que estamos ligados a algo maior e divino. Cheguei a esta conclusão observando a própria humanidade, pois vejo um quê de sagrado em cada ser humano com quem cruzo, o que me levou a deduzir que trazemos uma fagulha divina dentro de nós. Depois, estudando as religiões, vi que muitas delas apregoam a idéia de que o homem foi feito à imagem e semelhança de Deus, coisa que para mim faz muito sentido. Também encontro sinais do sagrado em toda parte, em cada um dos fenômenos naturais que nos cercam.  Mas, se fico maravilhada ante as estupendas obras da natureza, não o fico menos, ao constatar o incrível equilíbrio de todas as forças universais.
 Ultimamente eu tenho visto na TV o anúncio de um sem número de documentários, que tratam da possibilidade de a Terra vir a sofrer colisão com um corpo celeste grande, coisa que provocaria uma destruição imensa e terrível. Cheguei a comentar, com o meu marido, que acho este tipo de trabalho agourento e de mau gosto, rsrs. Sim, porque, embora não tenha assistido a nenhum, não pude deixar de ver, nos trailers, que logo após o impacto a Terra mergulharia numa escuridão gelada (provocada pela colossal atmosfera de poeira, cinza e fumaça, que encobriria o sol, acarretando uma dramática queda na temperatura terrestre). Porém, tal escuridão e gelo seriam quebrados, em muitos lugares, por incêndios imensos, que ocorreriam ao mesmo tempo que inimagináveis terremotos e tsunamis. Agora soube que o novo filme do cineasta dinamarquês Lars Von Trier aborda o mesmo assunto, embora com outro foco. Então, já estou começando a achar que alguns homens possam estar pressentindo um gigantesco desastre – Deus nos acuda! rsrs.  
 Por outro lado, não é de admirar que não ocorram tragédias assim com maior regularidade, se corpos pequenos caem na Terra o tempo todo? Digo com maior regularidade porque, segundo a ciência, o último desastre aconteceu há cerca de 65 milhões de anos e foi a causa da extinção dos dinossauros e de uma importante mudança/ajustamento do clima da Terra, entre outras. Eu não posso crer que o equilíbrio seja casual.
Embora eu nunca tenha necessitado de fatos e provas para justificar a minha fé, que é algo íntimo e puramente intuitivo, fico surpresa ao ver as argumentações que muitas pessoas usam para a sua descrença, pois em mim tais argumentos só produziriam dúvidas, e nunca a certeza da inexistência de Deus. Por outro lado, a própria ciência - que, diga-se de passagem, está longe de explicar e entender tudo, ao contrário do que parece acreditar os fanáticos dela -, já elencou tantas condições para a existência da vida na Terra, que crer que tudo é só coincidência chega a ser um paradoxo. Sim porque, segundo a ciência a Terra (resumindo muito):
1)   Tem o tamanho justo para ter a atmosfera formada de oxigênio e nitrogênio, gases mais abundantes em nossa atmosfera e importantíssimos para a existência da vida. O Oxigênio, aliás, representa só 20% da atmosfera se tivesse mais dele seríamos intoxicados.
2)   Está localizada à distancia justa do sol. Se fosse minimamente mais perto ou mais longe, a vida aqui seria impossível
3)   Os movimentos giratórios da Terra são perfeitos para a manutenção do equilibrio térmico de que necessitamos (todos os que vivemos no planeta), tanto no que concerne aos dias e noites  quanto em relação às estações.
4)   O satélite da Terra (a Lua) tem tamanho e distância perfeitamente ajustados à força gravitacional da Terra e é a força gravitacional da Lua (principalmente) que produz os movimentos dos oceanos (marés) que impedem a estagnação das águas. A evaporação das águas dos oceanos filtra o sal e distribui depois a água pura por toda a Terra, através da chuva.
5)   As águas dos oceanos são chacoalhadas pela gravitação lunar, mas não a ponto de inundarem os continentes.
6)   2/3 da superfície da Terra é coberta de água, que é uma substância cujas características (cor, cheiro, solvência, ponto de ebulição e congelamento) atendem perfeitamente às necessidades das vidas terrestres. Congelamento? Alguém pode perguntar? Sim, a água congela de cima para baixo, o que permite que os peixes sobrevivam em locais de invernos rigorosos. E a água é um solvente universal, o que permite que tenhamos muitas substâncias químicas, nutrientes, minerais, etc. presentes em nossos organismos sem que elas nos prejudiquem (para falar só de duas das propriedades da água, que constitue também 2/3 de nossos corpos).
7)   O ser humano é uma maravilha de design e funcionalidade e bibliotecas inteiras poderiam ser escritas apenas com a exploração desse assunto.  Porém, cada um dos seres humanos tem identificação única (o código do DNA que, além disso, é como um programa de computador que informa às células como elas devem se comportar, até mesmo com relação às  características potenciais, como o desenvolvimento de doenças, aptidões etc).
Enfim, é muita coincidência para ser tudo casual! Por outro lado, sei que a Terra sempre tem sido palco de ocorrências incompreensíveis, tanto no que se refere aos males que os homens têm infligido uns aos outros, quanto àqueles decorrentes de fenômenos naturais. Acho que a razão para a existência dessas coisas não nos é dada a conhecer, em nosso atual estágio de compreensão. Pela mesma razão, acho que um deus que compreendêssemos totalmente não seria digno de ser chamado de Deus.

sábado, 9 de julho de 2011

Meia Noite em Paris e a Vida Real


Fui ver recentemente o novo trabalho de Woody Allen, Meia Noite em Paris, e gostei muito. O filme é uma delícia, com a sua explícita alusão ao conto de fadas, em que sonhos se realizam à meia noite ou por volta dela. O personagem sonhador nele é Gil Pender, roteirista de Hollywood, que gostaria de viver em Paris e realizar ali uma obra relevante, começando com a conclusão do romance em que está trabalhando. Gil, sua noiva, Inez, e os pais dela se encontram de férias em Paris, e enquanto ele fantasia sobre como seria a vida ali nos anos 20, quando a cidade fervilhava de escritores e artistas, a noiva e os pais dela não querem outra coisa senão agir como turistas, visitando os points famosos e comprando móveis e objetos para o futuro lar da moça.
Então acontece de Gil ser transportado ao passado, através de um Peugeot antigo, que pára ao lado dele. Isto ocorre quando Gil se encontra sentado numas escadas na rua, onde arriara, a fim de descansar as pernas e tentar apressar um pouco a metabolização do álcool ingerido numa degustação de vinhos, em que estivera com a noiva. Os passeios solitários à noite, aliás, acontecerão muitas vezes, já que Gil se aborrece com a postura da noiva e dos sogros, que se comportam como burgueses arrogantes e tolos, sendo que a noiva ainda lhe proporciona um desprazer extra, ao se deixar envolver por um casal de amigos - que também se encontra de férias na cidade -, pois o homem, ex-professor de Inez, é um indivíduo pedante e chato, por quem, todavia, ela tivera uma paixão no passado (que ele, talvez, deseje reacender no presente).
No antigo Peugeot há sempre alguma das grandes personalidades das artes, que vivia em Paris nos anos 20, começando pelo escritor Ernest Hemingway. Estas pessoas levam Gil aos lugares que freqüentavam: bares, salões de festa e residências. Nestes locais, Gil encontra, estupefato, muitos dos artistas que posteriormente haveriam de ser consagrados como os gênios do século: Picasso, Cole Porter, T.S. Eliot, Luís Buñel, os Fitzgeralds, Gertrude Stein e outros. Claro que todos nós também somos transportados para aquele mundo mágico e cheio de vigor criativo. E ficamos imaginando quão fabulosamente interessante não teria sido uma experiência assim.
Terminado o filme, porém, não pude deixar de pensar nas vidas daqueles gênios, e foi inevitável a constatação de que muitos deles experimentaram grande quinhão de dor. Hemingway, por exemplo, começou a sofrer antes do estrelato, digamos assim, pois o pai dele se matou, quando o escritor tinha 30 anos e estava mais ou menos no início da carreira. A mãe dele, não obstante a relação que tinha com a arte, pois era professora de canto e ópera, tinha um espírito dominador e autoritário e era dada a atormentar o filho. Consta, em algumas das biografias do escritor, que a mãe chegou a lhe enviar o revólver com que o pai se matara, e ele nunca soube se ela desejava que o guardasse, como uma recordação do acontecimento trágico, ou o usasse para o mesmo fim. De qualquer modo, Hemingway viria também a cometer o suicídio, em 1961, vencido por doenças sérias e uma severa depressão. Antes disso, porém, a vida dele fora intensa e cheia de aventuras, como dá para entrever no filme. Também os Fitzgerald enfrentaram anos sombrios. O casamento deles foi instável e permeado de sofrimentos, que culminaram na esquizofrenia dela e no alcoolismo dele. Scott Fitzgerald morreu aos 44 anos, quando tentava refazer a vida longe de Zelda, que se encontrava internada num hospício (onde viria a morrer, oito anos depois, num incêndio que consumiu o lugar).
Cole Porter, provavelmente o mais charmoso dentre todos quantos foram mostrados no filme, ingressou no seu Purgatório terrestre aos 46 anos. Até então levara vida rica, venturosa e luxuosa, cercado dos mais conhecidos intelectuais da época. E então, em 1937, sofreu o acidente de cavalo que lhe quebrou as duas pernas, o obrigou a amputar uma delas, e o deixou com dores crônicas até o fim dos seus dias. Homossexual, Porter viveu vários romances com homens, apesar de ter sido casado durante 34 anos, com Linda Lee Thomas, mulher que sempre o apoiou. Quem assistiu ao filme que conta a vida dele (De Lovely, com Kevin Kline no papel principal), deve ter visto tudo isso.
T.S. Eliot tinha um distúrbio mental, como também a esposa dele. Picasso até que não sofreu, se não levarmos em conta os anos de pobreza extrema e carências variadas, do início de sua carreira. Em compensação, ainda hoje é acusado de ter infligido muitos e terríveis sofrimentos às suas mulheres.
Bem, vou parar por aqui, pois a vida também tem coisas boas e é um erro a gente se deter demais nas ruins. Todavia, não posso deixar de perguntar: não é uma pena que a vida real seja frequentemente tão complicada?

terça-feira, 15 de março de 2011

Nascimento


Quando fui convidada a escrever sobre o assunto ‘nascimento’, pensei em falar sobre a entrada dos seres humanos nesse mundo, a expectativa que este acontecimento gera na família e coisas tais. Mas isso me fez pensar justamente na importância que tem a boa expectativa, com relação à chegada dos bebês, que deveriam sempre ser desejados e bem cuidados. Sabemos que, por infinitas razões,a realidade não é bem esta. E, por outro lado, eu compreendo e respeito a decisão das pessoas que decidem não ter filhos. Os filhos, de fato, dão trabalho e geralmente impõem sacrifícios aos pais. Há pessoas que não deveriam mesmo ter filhos, seja em razão dos próprios interesses ou limitações, ou pelo bem da humanidade.
Com tudo isso, porém, eu não compreendo uma pessoa como a psicanalista Corinne Maier que, sendo mãe, se deu ao trabalho de escrever um livro onde lista 40 Razões Para Não se Ter Filhos (que, aliás, é o nome da obra). Para ser sincera, eu não cheguei a ler este livro (nem pretendo, pois o título é por demais autoexplicativo, rsrs). Mas as resenhas dele, lidas em muitas mídias, e as controvérsias que ele gerou na época do lançamento me fizeram saber que esta senhora acha que (com as próprias palavras dela):

01) As crianças são o inferno
02) Os filhos arruínam as mães
03) Uma mulher com filhos não pode ter uma carreira
04) Também não pode se divertir nem ter vida afetiva e sexual
05) Filhos são parasitas
E vai por aí até chegar à 40ª.

É um livro tão provocativo, e a autora parece tão afeita às controvérsias, que eu simplesmente não o mencionaria, chamando a atenção para esta obra caça-níqueis, não fosse o fato de terem vindo a público um bando de gente igualmente equivocada (ou de má fé) que, ecoando as argumentações do livro, tenta impor os próprios pontos de vista. Chamo essa gente de equivocada ou de má fé porque, como eu disse acima, ter ou não filhos é decisão de foro íntimo, que deve ser respeitada pelos outros.
Mas vir a público proclamar sandices como: “Com filhos você vai passar noites acordada e não será na balada e sim ouvindo choro” é algo que açoita o meu raciocínio e sensibilidade e, diante disso, a vontade que tenho é de dizer a essa pessoa: "Você tem razão, se a sua mãe tivesse pensando como você, eu agora estaria livre de ouvir/ler o que você está dizendo”, rsrs.


(Blogagem Proposta pelo Blog Espiritual Idade: http://espiritual-idade.blogspot.com/)

terça-feira, 8 de março de 2011

O Bom, o Mau e o Feio (The Good, the Bad and the Ugly), ou uma das muitas belezas que a vida me ofereceu.

Meu pai era fanático por faroestes e e séries de TV relacionadas a cowboys e fazendeiros. Acho que isso se devia à infância dele, vivida em fazendas. Ele também se identificava com os forasteiros, que deixam as suas raízes para irem em busca de progresso pessoal e aventura, em lugares ainda por desbravar. O espírito aventureiro e destemido, aliás, era peculiaridade de meu pai, que deixou a vida cômoda e conhecida, para participar, desde o início, da epópeia da construção da nova capital do Brasil.
Na minha infância e juventude, quando os filmes de faroeste eram exibidos na TV, nós filhos sabíamos que o canal não podia ser mudado. Nessas ocasiões, eu geralmente me retirava da sala e ia ler um livro, ou fazer outra coisa, pois embora nunca tivesse assistido sequer a um filme desses inteiro, não me agradava a violência que permeava as estórias; nem as pessoas brutas e empoeiradas que eram as personagens delas.
Mas, eis que um dia, passando diante da porta da sala, enquanto meu pai prestava o seu culto semanal aos cowboys do Velho Oeste, rsrs, ouvi uma música muito linda, que em seguida descobri ser a trilha sonora do filme que ele assistia. Era ‘Il Trillo’, de Ennio Morricone, que foi consagrada posteriormente como “The Good, The Bad and de Ugly”, nome norte-americano do filme ‘ Il Buono, il Brutto, il Cattivo’, do italiano Sérgio Leone, estrelado por Clint Eastwood.
Achei a música extraordinária e dali pra frente passaria a associar cada nota dela à ação do filme: as disputas entre Eastwood ‘Loirinho’ e os dois outros bandoleiros: Tuco e Angel Eyes. Loirinho seria o Bom, Angel Eyes, o Mau, e Tuco, o Feio. Na verdade, nenhum dos três era realmente bom e Eastwood/'Loirinho' era o mais bonito deles, rsrs. Mas isso não tinha importância; importante era a gente ir assistindo e intuindo, por causa da agitação que ia nos tomando, que estava diante de uma obra genial, que estaria conosco para sempre.
Quando eu fiquei mais madura e pude acompanhar com mais atenção à carreira de Clint Eastwood, me ocorreu que os acasos da vida já devem ser previamente determinados, para algumas pessoas. Só isso explica o fato de alguém como Clint Eastwood ter tomado parte de um projeto cinematográfico que à época, devia parecer uma bobagem, para um ator norte-americano. Refiro-me aos filmes ‘Spaghetti Western’, gênero no qual embarcou Sérgio Leone. Mas o tempo fez com que alguns daqueles filmes – este entre eles - viessem a ser considerados obras primas. Uma coisa é certa, a música/tema de Ennio Morricone é de fazer qualquer um arrepiar; beleza em estado puro!

sábado, 2 de janeiro de 2010

Filme: “Um amor verdadeiro” (One true thing)/As lições que o cinema nos dá – vol I




(atenção: ‘spoiler’, texto com revelações sobre o enredo do filme acima)

Eu estava (estou) com um post praticamente pronto, sobre as aspirações femininas, versus obrigações domésticas, e pensava mesmo em terminá-lo hoje, já que este blog está parado há mais de um mês (cruzes!), quando vi, na noite passada (no momento em que me deitei), um pedacinho do filme ‘Um amor verdadeiro’ (One True Thing), que estava sendo exibido na TV. Já era mais de meia noite e eu tinha de acordar bem cedo, portanto, tive de deixar o filme prá lá. Mas fiz isso com pesar; e só consegui desligar a TV depois de assistir a uma boa meia hora da película. Porém, a minha opção pelo assunto a ser abordado no post de hoje se transferiu, automaticamente, para o filme.
‘Um amor verdadeiro’ (por que traduziram o título assim, é um mistério para mim!) não é bem um filme novo (foi lançado em 1998), e eu já o tinha visto antes. Mas o considero tão bom, que não posso deixar de voltar a o assistir, se as suas imagens me são apresentadas.
O que esse filme tem de mais extraordinário, em minha opinião, é a capacidade de tratar de assuntos sérios e profundos, de forma aparentemente despretensiosa. Ele é estrelado por Meryl Streep que, soberbamente, contracena com William Hurt (em ótima atuação) e uma jovem Renée Zewellger (que apesar das críticas, também desempenhou muito bem o seu papel).
Eu poderia dizer – como muitos já o fizeram – que o filme conta a estória de uma moça que, forçada a abandonar a própria carreira para cuidar da mãe doente, vê mudarem os seus pontos de vista sobre a família (e sobre a vida!).
Todavia, apesar de ser exatamente assim, o filme mostra mesmo é como o processo de crescimento de um ser humano pode ser complexo e doloroso. Ou como a vida é - quase sempre - uma trajetória difícil. Ellen Gulden, a personagem de Zellweger, é uma jornalista, em início de carreira, que ambiciona fazer logo uma reputação entre os seus pares. Ela se vê como uma pessoa muito superior à própria mãe, que ela julga limitada. Ellen acha que é com o pai que tem afinidades, por ele ser um homem voltado para as coisas do intelecto: professor de literatura e escritor (embora de pouca expressão); e também alguém que ela acha mais sábio do que a mãe.
Para Ellen, Kate Gulden, sua mãe, é quase uma caricatura, com a sua' fútil’ determinação em ser a perfeita dona de casa (enquanto dá pueris festas à fantasia, e, juntamente com as amigas - que Ellen também considera folclóricas - faz minuciosos trabalhos manuais, principalmente ornamentos para as árvores de Natal). E aí, como sói acontecer sempre (pois “a mudança é a lei da vida”, conforme nos atestam os aforismos do Orkut), o mundo de Ellen sofre uma brusca transformação; ou, como costuma dizer o povo, “é posto de cabeça para baixo”. E tudo por conta da doença que acomete a mãe.
Sim, porque, quando Kate Gulden é diagnosticada como portadora de um câncer (que acaba por matá-la), George Gulden, o charmoso e inteligente pai de Ellen, determina que a filha se afaste do seu mundo (emprego, namorado e até do próprio apartamento, pois ela mora em outra cidade), para cuidar da mãe.
E é aí que os fatos reais da vida começam a se mostrar para Ellen. Ela vê então, depois de haver se submetido por alguns dias ao estafante trabalho doméstico, o quanto a mãe é – na verdade - abnegada e amorosa. E o quanto o pai é uma pessoa diferente do que ela supunha: um tanto egoísta e ... sim, fútil. A mãe se lhe aparenta tão incrivelmente capaz de sacrifícios, que ela lhe pergunta:
“Como é que você suporta tudo isso, dia após dia?”. E a mãe serenamente responde: “Mas esse trabalho é necessário a vocês, minha família, pessoas que me foram dadas para amar nesse mundo!”. E o pai, de quem são gradativamente mostradas as fraquezas e os enganos, não é tido, por isso, em menor conta pela mãe (que parece sempre ter sabido delas), mas passa a ser depreciado (e até hostilizado) pela filha!!. Também quanto ao namorado a percepção de Ellen se amplia, fato que não pode deixar de ter consequências.
Enfim, este é um desses filmes comoventes, feito para ensinar e fazer refletir. É também - sem dúvida - uma tentativa de definir o amor verdadeiro. Huuumm, pensando bem, a tradução do nome para o português é bem pertinente!