sábado, 21 de fevereiro de 2009

Charles Bukowski


Este blog está abandonado, eu sei. É que me tem faltado tempo para escrever os textos que
desejo. Enquanto isso não acontece, deixo-vos uma imagem de Charles Bukowski que nos prova - mais uma vez - que a aparência de uma pessoa não tem nada a ver com algum talento que ela
porventura possua!

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Dirce de A.Cavalcanti e a tragédia de Euclides da Cunha



(Nota: O texto abaixo revela o enredo do Livro O Pai, de Dirce de Assis Cavalcanti)


Acabei de ler um livro que me chegou às mãos casualmente. Trata-se de O Pai, de Dirce de Assis Cavalcanti. Esse livro se encontrava entre outros, arrematado recentemente por F, numa garage sale. Examinando os títulos das obras, observei serem livros espíritas, e os encaxotei para doação. Entre eles, no entanto, havia esse O Pai, um livro autobiográfico.

Muito me surpreendi com o teor do livro, e sobretudo com o talento literário da autora. Ela vem a ser, imaginem só, filha do militar Dilermando de Assis, o homem que matou o escritor Euclides da Cunha.

Narrando sua estória, Dirce de A. Cavalcanti nos expõe a tragédia em que seu pai esteve envolvido, e a forma como isso o afetou posteriormente, bem como à nova família constituída por ele. Ela nasceu de um casamento contraído por Dilermando de Assis, depois que ele se separou de Ana, ex-mulher de Euclides da cunha, e pivô da desgraça que sobreveio aos dois homens.

Tencionando ingenuamente poupar a menina, Dilermando e a mãe dela se calaram sobre os fatos concernentes ao passado dele, uma vez que ele fora absolvido do crime em que esteve envolvido. A menina, porém, acaba por descobrir (através de uma coleguinha de escola, e da pior forma possível), os eventos ocorridos na juventude de seu pai. E a estória de Dilermando nos prova, mais uma vez, que a vida é, e sempre será, mais complexa e surpreendente que qualquer obra de ficção.

Dilermando de Assis conheceu Ana da Cunha, quando ele tinha dezessete anos, por ser ela, então, vizinha e amiga de suas tias. Recém-ingresso na vida militar, ele era um rapagão alto, loiro, de olhos azuis, campeão nacional de esgrima, de salto em vara e tiro ao alvo. Pouco depois de conhecê-la, Dilermando, as tias e Ana, se tornam vizinhos num edifício em que a proprietária, madame Monat, alugava apartamentos para famílias. E aí é que a 'coisa' entre eles se inicia pois Ana, no vigor dos trinta e poucos anos, passava longos períodos sozinha (com o filho dela com Euclides), enquanto seu marido famoso se ausentava, às voltas com suas viagens e pesquisas.

Ana e Dilermando se apaixonam ela engravida, quer se separar de Euclides mas esse não lhe concede a separação. O bebê gerado por Ana e Dilermando morre com poucos dias de nascido (mais tarde ela diria que o marido o afastou dela, impedindo-a de amamentá-lo). O casal de amantes, no entanto, a despeito das adversidades que se interpõem entre eles (a furiosa oposição do marido dela; a transferência dele para uma escola militar no Sul, etc.), continua se encontrando e ela dá à luz a outro filho de Dilermando. Euclides registra a criança como seu filho, no intento, talvez, de por um fim definitivo, na relação extra-conjugal da mulher. O casamento dos dois, porém, se tornara impossível e, depois de conflitos e discussões terríveis, ela deixa a casa do marido, com os dois filhos - o dele e o do amante - e vai morar com esse, na casinha em que ele estava residindo com o irmão. Euclides descobre o endereço da casa e irrompe no local disposto a matar ou morrer. Ali ele é atendido à porta pelo irmão do jovem militar, em quem atira (o rapaz sobrevive mas, tornando-se inválido, comete o suicídio poucos anos depois). Dilermando também é alvejado (várias vezes) e, para se defender, dá dois tiros em Euclides, um deles, fatal.
Posteriormente a viúva se casa com o jovem amante e tem outros filhos com ele, mas, alguns anos depois, o filho que ela tivera com Euclides procura vingar a morte do pai, disparando um tiro - pelas costas - no novo marido de sua mãe. Esse, que se encontrava na ocasião, num cartório, no Rio de Janeiro, reage e mata também o seu agressor. Segue-se a isso, a separação do casal.
Passado alguns anos, Dilermando se junta à mãe de Dirce, a autora do livro a que ora nos referimos. E escreve também a sua versão dos fatos, narrada na obra A tragédia da Piedade. Euclides da Cunha, não é preciso dizê-lo, é o autor de Os Sertões tido como um dos maiores livros já escritos por um brasileiro.