sábado, 2 de janeiro de 2010

Filme: “Um amor verdadeiro” (One true thing)/As lições que o cinema nos dá – vol I




(atenção: ‘spoiler’, texto com revelações sobre o enredo do filme acima)

Eu estava (estou) com um post praticamente pronto, sobre as aspirações femininas, versus obrigações domésticas, e pensava mesmo em terminá-lo hoje, já que este blog está parado há mais de um mês (cruzes!), quando vi, na noite passada (no momento em que me deitei), um pedacinho do filme ‘Um amor verdadeiro’ (One True Thing), que estava sendo exibido na TV. Já era mais de meia noite e eu tinha de acordar bem cedo, portanto, tive de deixar o filme prá lá. Mas fiz isso com pesar; e só consegui desligar a TV depois de assistir a uma boa meia hora da película. Porém, a minha opção pelo assunto a ser abordado no post de hoje se transferiu, automaticamente, para o filme.
‘Um amor verdadeiro’ (por que traduziram o título assim, é um mistério para mim!) não é bem um filme novo (foi lançado em 1998), e eu já o tinha visto antes. Mas o considero tão bom, que não posso deixar de voltar a o assistir, se as suas imagens me são apresentadas.
O que esse filme tem de mais extraordinário, em minha opinião, é a capacidade de tratar de assuntos sérios e profundos, de forma aparentemente despretensiosa. Ele é estrelado por Meryl Streep que, soberbamente, contracena com William Hurt (em ótima atuação) e uma jovem Renée Zewellger (que apesar das críticas, também desempenhou muito bem o seu papel).
Eu poderia dizer – como muitos já o fizeram – que o filme conta a estória de uma moça que, forçada a abandonar a própria carreira para cuidar da mãe doente, vê mudarem os seus pontos de vista sobre a família (e sobre a vida!).
Todavia, apesar de ser exatamente assim, o filme mostra mesmo é como o processo de crescimento de um ser humano pode ser complexo e doloroso. Ou como a vida é - quase sempre - uma trajetória difícil. Ellen Gulden, a personagem de Zellweger, é uma jornalista, em início de carreira, que ambiciona fazer logo uma reputação entre os seus pares. Ela se vê como uma pessoa muito superior à própria mãe, que ela julga limitada. Ellen acha que é com o pai que tem afinidades, por ele ser um homem voltado para as coisas do intelecto: professor de literatura e escritor (embora de pouca expressão); e também alguém que ela acha mais sábio do que a mãe.
Para Ellen, Kate Gulden, sua mãe, é quase uma caricatura, com a sua' fútil’ determinação em ser a perfeita dona de casa (enquanto dá pueris festas à fantasia, e, juntamente com as amigas - que Ellen também considera folclóricas - faz minuciosos trabalhos manuais, principalmente ornamentos para as árvores de Natal). E aí, como sói acontecer sempre (pois “a mudança é a lei da vida”, conforme nos atestam os aforismos do Orkut), o mundo de Ellen sofre uma brusca transformação; ou, como costuma dizer o povo, “é posto de cabeça para baixo”. E tudo por conta da doença que acomete a mãe.
Sim, porque, quando Kate Gulden é diagnosticada como portadora de um câncer (que acaba por matá-la), George Gulden, o charmoso e inteligente pai de Ellen, determina que a filha se afaste do seu mundo (emprego, namorado e até do próprio apartamento, pois ela mora em outra cidade), para cuidar da mãe.
E é aí que os fatos reais da vida começam a se mostrar para Ellen. Ela vê então, depois de haver se submetido por alguns dias ao estafante trabalho doméstico, o quanto a mãe é – na verdade - abnegada e amorosa. E o quanto o pai é uma pessoa diferente do que ela supunha: um tanto egoísta e ... sim, fútil. A mãe se lhe aparenta tão incrivelmente capaz de sacrifícios, que ela lhe pergunta:
“Como é que você suporta tudo isso, dia após dia?”. E a mãe serenamente responde: “Mas esse trabalho é necessário a vocês, minha família, pessoas que me foram dadas para amar nesse mundo!”. E o pai, de quem são gradativamente mostradas as fraquezas e os enganos, não é tido, por isso, em menor conta pela mãe (que parece sempre ter sabido delas), mas passa a ser depreciado (e até hostilizado) pela filha!!. Também quanto ao namorado a percepção de Ellen se amplia, fato que não pode deixar de ter consequências.
Enfim, este é um desses filmes comoventes, feito para ensinar e fazer refletir. É também - sem dúvida - uma tentativa de definir o amor verdadeiro. Huuumm, pensando bem, a tradução do nome para o português é bem pertinente!